“Novos tempos, novos desafios. Defender os direitos e avançar mais” foi o slogan eleito para a 6ta Conferência Regional da UNI Américas ICTS, identificando o trabalho do setor para o próximo período. Do dia 15 até 16 de junho mais de 200 delegadxs das Américas debateram sobre as mudanças e desafios que vem atravessando a categoria nestes últimos quatro anos de transformação tecnológica e um forte crescimento da economia virtual.
As grandes crises representam uma importante oportunidade de mudança e nesse sentido, xs trabalhadorxs da ICTS estiveram à vanguarda. Frente à crise sanitária muitas organizações sindicais implementaram campanhas de filiação virtual devido a que xs trabalhadores estão cada vez mais isoladxs. Desta forma, têm uma possibilidade de sindicalizar online, com filiadxs em locais distantes, onde as companhias não se encontram fisicamente presentes, mas onde xs trabalhadorxs trabalham remotamente.
“Estamos orgulhosxs da organização dos trabalhadorxs da indústria tecnológica nas Américas. Estamos no meio de uma revolução tecnológica que está mudando nossas sociedades. Vocês já avançaram em gerar direitos novos antes da pandemia. É importante destacar esse trabalho”, expressou Andy Kerr presidente Mundial da UNI ICTS.
Uma das coisas que demonstrou a pandemia é a intersecção da tecnologia em todas as partes das nossas vidas e trabalhos e trouxe a discussão um dos temas essenciais para xs trabalhadorxs neste último ano e meio: o teletrabalho.
Que acontece com os riscos trabalhistas, as ferramentas de trabalho e despesas que têm xs trabalhadorxs ao realizar as tarefas desde seus lares? Como implementar o teletrabalho com perspectiva de gênero? As organizações estão velando por um quadro regulatório para este sistema de trabalho, para garantir que as condições dxs trabalhadorxs sejam as mais adequadas, para que se impulsionem leis que regulem o setor, mas que também se estabeleçam e contemplem uma série de regras e condições nos acordos coletivos.
Muitos sindicatos se adiantaram, conseguindo acordos inovadores antes da crise sanitária. “Embora a pandemia trouxesse situações novas, como a essencialidade e o teletrabalho, o setor já tinha começado sua transformação antes, garantindo direitos como o de desconexão e outras garantias para xs trabalhadorxs do setor”, destacou Marcio Monzane, secretário regional da UNI Américas.
“O direito à desconexão não é apenas um direito que deve ser reconhecido a quem se desempenham no teletrabalho, é um direito que deve de garantir-se para todas as pessoas, a quem se desempenham em trabalho presencial também”, expressou Pablo Topet, assessor do ministro de Trabalho, Emprego
e Segurança Social da Argentina. “O desafio é encontrar uma forma razoável que proteja e permita que a tecnologia não se torne um problema mais a partir da perspectiva da saúde das pessoas, mas que seja uma forma de liberar e ter uma sociedade mais equilibrada, com direitos e justiça social”, manifestou.
Xs delegadxs manifestaram uma forte preocupação pela vigilância no trabalho da casa, já que algumas empresas instalam câmeras nos computadores dxs trabalhadorxs que são contratados nos call centers, violando seu direito à privacidade. A precarização nas condições de trabalho, produto da virtualidade e o trabalho remoto, tem aumentado. Nesse sentido, Héctor Daer, presidente da UNI Américas, destacou o trabalho dos sindicatos: “A pandemia gerou mudanças no âmbito social, econômico e trabalhista. O crescimento dos centros de contato gerou prejuízos axs trabalhadorxs que os integram, mas a UNI realizou um grande trabalho sindical de proteção de direitos”.
Perante aos processos de mudança no setor, xs participantes afirmaram que é necessário impulsionar um modelo sindical inovador, capaz de identificar os espaços onde sejam criados postos de trabalho com maior capacidade de crescimento a futuro, já que tem trabalhadores de TI no mundo todo e tem muitos setores que estão se digitalizando rapidamente. Também destacaram a importância dos Acordos Marco Globais que a UNI tem assinado com as empresas globais. “Queremos exigir a responsabilidade destas empresas para manter os direitos básicos de todos seus trabalhadorxs, sem importar onde elxs estejam. Em geral, nossas relações com empresas globais têm sido muito importantes durante esta pandemia”, destacou Christy Hoffman, secretária geral da UNI Global Union. “Fomos capazes de ter um papel muito importante em demonstrar que é necessário regular o retorno aos postos de trabalho junto com não renunciar aos nossos direitos”, expressou.
André Rodrigues, Diretor Regional da UNI Américas ICTS, referiu-se ao plano de ação para os próximos quatro anos: “A primeira prioridade é continuar com a sindicalização e traduzir as necessidades e demandas em processos de negociação e celebração de acordos coletivos que atendam estas demandas”, indicou. “Devemos trabalhar para que existam condições e regras para que xs trabalhadorxs possam se desenvolver no teletrabalho sem nenhum tipo de risco nem prejuízo”.
Finalizada a Conferência, a companheira Martha Heredia, do STRM de México, foi eleita como a nova presidenta do setor, quem destacou a importância de reivindicar o valor do sindicalismo como agente de mudança social para frear a pobreza, permitir uma vida digna e conseguir a igualdade de gênero: “O sindicalismo pode fazer uma diferença para a recuperação econômica com justiça e igualdade. É imperativa a promoção da Convenção 190 sobre a erradicação da violência no mundo do trabalho, é fundamental transversalizar na negociação coletiva medidas de igualdade substantiva das
mulheres trabalhadoras, que erradiquem e evitem os ambientes de violência nos locais de trabalho”, ressaltou Heredia.
“É fundamental a promoção de iniciativas para incidir na solução de problemas que afetam à juventude trabalhadora, que permitam a sindicalização dos não organizadxs, promover lideranças dentro dos sindicatos para continuar fortalecendo os processos democráticos e para fortalecer o sindicalismo da região”, concluiu.